Que fase…

21/05/2024
Caldo de mocotó

Quando completei 16 anos fui pela primeira vez tomar caldo de mocotó na feira, virou minha paixão! Está no TOP 5 das minhas comidas preferidas, se bobear é TOP 1.

Tá, não é sobre mocotó, é sobre a feira!

A feira da Ceilândia, assim como outras feiras, é uma bagunça, muita gente andando correndo, gritando, vendendo, “escolha jovem!”, “camiseta?”, “é tênis, irmão?” “água, coca, latão!”, enfim, no meio do caos, prestes a dar a colherada inicial no meu mocotó, ouço duas mulheres conversando bem ao meu lado, aliás, não era bem uma conversa, era um monólogo. Uma delas estava com os olhos vermelhos, devia ter chorado há pouco, um semblante triste, permanecia calada, enquanto a outra, com voz firme e aparentemente raivosa, disse “mulher, um amor se cura com outro amor!”

“Um amor se cura com outro amor…”

Faz 25 anos que ouvi esta frase e misteriosamente ela ficou guardada aqui, não só a grafia, mas a fonética, a imagem da mulher consolando a amiga, coitada… tenho tudo bem fresco na memória. Bem loco!

Hoje a frase veio com força enquanto eu lia um texto no Instagram, era um perfil com desabafos poéticos, aparentemente de uma moça, o texto que li era carregado de figuras de linguagem, que me remeteu a saudade dela de algo bom que viveu a dois num passado não muito distante, o que me fez lembrar de uma dor inédita que senti no ano passado, dor esta que se arrastou por meses, sem alívio, sem dó, sem cura… e, logo após o evento que deixou aquela chaga aberta, me veio a voz da conselheira da feira “um amor se cura com outro amor”.

"Um amor se cura com outro amor"

Será mesmo? Então tá, vamos testar!

De lá pra cá fiz um tour por vários ninhos, um voo feito de forma respeitosa, sem a lascividade inerente aos jogadores mais jovens. E qual era o plano deste voo? A cura!

Não vou descrever detalhes dos voos, mas conheci pessoas interessantes, mulheres de alto capital estético e intelectual, pessoas que certamente, em outro cenário, estariam elegíveis para uma história bonita.

Neste período tive a prova necessária pra afirmar: ela mentiu! Mentiu pra amiga, mentiu pra mim, mentiu pra quem passava por ali! Aquela mulher da feira não fazia ideia da besteira que dizia. Não se cura um amor com um novo amor, o amor não curado sequer te permite tentar um novo amor, é uma doença, uma sarna que vai e volta, só que mais volta do que vai (entendeu?), num dia você acorda feliz e pensa “porra, até que enfim estou pronto!” no outro você levanta murcho “porra, não passa nunca? Só pode ter sido macumba…”.

No exato momento em que escrevo este texto, estou abandonando mais um ninho que visitei na esperança da cura, abandono-o agora antes do aparecimento de raízes, antes de chegar ao ponto de causar dano significativo em quem em nada contribuiu para esta maldita via crucis.

“Um amor se cura com outro amor…”

Teu cu, sua maluca!

Este ditado de merda não tem valor algum!

Valor tem aquele que ouvi da minha avó “não faça com os outros o que não quer que façam contigo” e tem valor equivalente o que disse Antoine de Saint-Exupéry no Pequeno Príncipe “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, não seria humano da minha parte correr o risco de cativar para um fim, descobrir que não me enganei e abrir chagas em outra pessoa, feito que eu não gostaria que fizessem comigo.

Tenho a tranquilidade da certeza de que minha intenção ao visitar os ninhos não era apenas a cura (era também), mas eu quis mesmo ser 2, quis criar laços, conhecer família, jogar FIFA com o cunhado (apesar de gostar mais de PES), buscar a sogra no mercado, aparecer nas fotos do aniversário da sobrinha, sim, era isso desde o começo, e a cura como consequência, mas esta noite percebi que o plano mudou, aliás, mudaram o plano sem me consultar nesse carai… notei que curar-me virou prioridade, deste modo é melhor manter-me sozinho por enquanto, porque agora acabou o fair play… não pra mim, mas para as donas dos ninhos porque, modéstia a parte, sou um cara muito legal, sei conversar sobre qualquer coisa do mundo, faço boas piadas (as vezes), arranco gargalhadas, sou uma presença ótima pra qualquer ambiente, o rolê comigo é sempre legalzão, e desta forma quando menos se espera, TEI! Eis uma paixão! Juro, pode perguntar pra tua irmã (perdão), e não é justo cativar pra meter o pé em seguida.

É certo que a dor que senti não é mais a mesma, ainda bem! Mas eu quase morri! (tá… hiperbolizei aqui), hoje não se trata mais de chagas abertas, agora é só uma feridinha tipo aquela herpes chata no canto da boca, sem desespero, só um ardidinho, mas ainda incomoda né… e não quero que este incômodo vire herança para a dona do próximo ninho que pousarei, então no exato momento que eu digitar o ponto final deste texto, iniciarei uma quarentena, guardar-me-ei até o dia da cura real oficial.

Já fazia um bom tempo que não recebia a visita da moça clara e salgada que chega na calada, mas hoje foi um dia daqueles!

[ponto final deste texto]

Enviado do meu iPnohe.

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